sábado, 20 de março de 2010

por outras paisagens

Olá a todos!


Depois de alguns problemas técnicos por aqui, a solução mais fácil foi transferir o conteúdo deste blog para outro endereço. Espero que continuem me visitando sempre, mas agora em www.voodeideias.blogspot.com .
Espero vocês por lá!
Beijos a todos.
Eu, Roseana

domingo, 14 de março de 2010

Mulheres

Estou perdido, não posso viver um dia sem te ver, te sentir, acariciar sua pele morena e doce. Você partiu de minha vida, sem compreender que o que fiz foi por amor, um amor viciante. Mas por você o que sinto é 'amor-supremo-amor-eterno-amor', desses que cegam, que nos matam quando distante. E é isso que acontece agora, você partiu e pouco a pouco vou morrendo.

Tudo começou quando nasci, eram tantas as mulheres à minha volta que não podia ser diferente, me apaixonei por todas. Não tinha pai, minha mãe, moderna para a época, tinha uma namorada. O pai que me gerou é um amigo que estava morrendo e não tinha filhos, queria deixar um no mundo e pediu que minha mãe o ajudasse. E assim fui feito num laboratório, dizem que sou um dos primeiros.

Paula é minha mãe e Ana, também. Mas Ana faz as vezes de pai, ela é a figura masculina da casa. Minha mãe é doce, como a fruta mais delicada das árvores de nosso quintal, e Ana é sagaz para os negócios e nos faz uma família. Briga com todos pelos nossos direitos, não aceita que nos descriminem. E com o tempo, conquistou respeito e confiança em toda a Cidade. Hoje ela é presidente da associação de comércio da Cidade, todos vão consultá-la para pedir conselhos sobre seus negócios. Querem que ela seja Prefeita da Cidade, mas ela não quer, diz que já basta toda a trabalheira que tem.
Minha mãe Paula, por sua vez, cuida da casa, da escola que mantém no bairro e das mulheres que chegam por ali pedindo apoio porque foram espancadas por seus homens. Cresci entre tantas mulheres lindas e fortes. Praticamente fui o único homem por ali, lembro de poucos funcionários, mas não duravam, a maioria ia embora porque não aceitavam a relação das minha mães, ou porque não podiam receber ordens de mulheres, ou simplesmente porque não tinham respeito e não sabiam tratar as pessoas.
Lembro bem quando Amélia chegou com sua filha Sabrina. Amélia veio porque não agüentava mais o marido que bebia todos os dias,  ele não tinha emprego e Amélia trabalhava pra sustentar a casa, a filha e o marido. Ela disse que ele se sentia diminuído por isso, e bebia, quando voltava se algo não lhe agradasse ele espancava a mulher. Mas chegou o seu limite e por isso ela saiu de casa. Trabalharia dia e noite para ter direito a cama e comida para ela e a filha, ajudaria com as outras mulheres e crianças, só queria ser aceita ali na Comunidade. Era assim que as mulheres falavam, diziam que viviamos numa Comunidade.
Sabrina tinha, 7 anos, apenas 3 anos mais nova do que eu. Uma menina morena, cabelos cacheados, que viviam presos num volumoso rabo-de-cavalo. Usava sempre uns vestidos floridos feitos por sua mãe, por isso eu a chamava de menina-flor. Crescemos juntos e junto foi crescendo o meu amor por ela. Mas eu não compreendia.
Com o passar dos anos, fui apresentado ao amor carnal que as mulheres podiam me proporcionar o que foi minha perdição. Não vivia mais sem mulheres. Queria sentir o cheiro de todas, tocar suas partes, recitar poemas com a cabeça encostada naqueles deliciosos corpos. Cheiros, sabores, textura, cada uma tinha um e eu queria descobrir o de todas. Aquele era o meu segredo com as mulheres, nunca prometi casamento, mas sempre disse que poderia ser o amante eterno de todas elas. Não havia ciúme, elas sabiam que eu não era uma posse, era um bem a ser compartilhado. Era o melhor amante e confidente.

Sabrina sempre esteve ao meu lado, quando ela tinha 17 anos, começamos a namorar. No dia que ela completou 18 anos, eu ganhei de presente sua pureza. E me embriaguei. Aquele era o melhor cheiro, o melhor sabor. Sua pele era macia, tinha o toque das pétalas das flores que minha mãe tinha em casa. Tudo aquilo me seduziu, eu não entendia o que estava acontecendo, algo havia mudado em mim. Não podia viver sem as outras mulheres, era um vicio, mas não podia viver sem a Sabrina. Um dia sem seus beijos me arrebentava, me entristecia.
Continuei com meu segredo, nas tardes de trabalho arrumava uma forma de escapar e visitar minhas amigas. Mas um dia Sabrina descobriu e quando soube jurou nunca mais me olhar nos olhos, nunca mais me amar. Tentei explicar, queria que ela entendesse que tudo aquilo era amor, excessivo amor por mulheres, mas que elas nada significavam pra mim. Ela não me deu chances, partiu, sem dizer nada, foi para a casa de uma tia na Cidade vizinha, foi com a desculpa de que ia estudar e procurar um emprego.
Agora estou aqui, sofrendo. Da forma mais dura descobri que o que sinto pela Sabrina é diferente, ela sim é o meu vício. Sem ela não sei viver,  não tenho porque respirar, não tenho porque me alimentar. Minhas amigas me procuram, revezam ao meu lado tentando me agradar, já fizeram as propostas mais assanhadas, e recusei todas. Eu quero a Sabrina de volta, estou morrendo, morrendo por excesso de amor pelas mulheres.
por Roseana Franco

domingo, 7 de março de 2010

O vendedor de passados - eu recomendo!

Este é o primeiro livro  que li de José Eduardo Agualusa, famoso escritor Angolano.
A história é contada por Eulálio, uma osga, uma lagartixa que nasceu e viveu por toda a vida nesta mesma casa, seu entrosamento com o ambiente e seu dono é tanta que ela sente os rumores da construção e dos pensamentos do seu proprietário, escuta todas as conversas e é a maior testemunha de toda a reviravolta que aqui acontece.
Félix Ventura é o dono da casa, cenário de toda essa prosa. Ele tem um estranho ofício, vende passados para quem precisa de uma boa história para contar. Seus clientes são empresários, políticos entre outros, todos com futuro garantido, mas o desejo de esconder o passado, ou ansiosos por um passado digno.
Numa noite, durante o jantar, a campainha toca e um homem entra. Quer um passado, quer um nome.
Conversam e aos poucos, durante os dias seguintes Felix constrói essa história. Porém esse estranho homem não se satisfaz e vai atrás do passado criado, ele quer vivenciar, quer realmente sentir a nova vida. Mas tudo isso é pretexto do autor para fazer o encontro dos demais personagens do livro e no ápice do livro poder apresentar e concluir toda a trama que nos reserva. 
Não vou contar, quero que vocês leiam o livro. Uma leitura simples, rápida e gostosa. A cada capítulo  Agualusa tem uma surpresa para o leitor.

8o livro do ano - Sinto-me só

É um livro de memórias, de uma família que já esteve na mídia diversas vezes.
Karl Taro Greenfeld, autor deste livro, é o irmão de Noah Taro Greenfeld, um homem que hoje tem aproximadamente 40 anos e nasceu com déficit de desenvolvimento, conhecido como autismo. A história de Noah já foi contada diversas vezes pois seu pai, um escritor americano, Josh Greenfeld, já escreveu livros e crônicas sobre a vida com Noah e todas as dificuldades implícitas naquela convivência. Mas Karl foi além, ele conta no livro a visão do irmão mais velho.
O livro mostra a crueldade dos tratamentos, os preconceitos, as cobranças e culpas familiares. Durante a leitura nossos sentimentos vão se transformando conforme os fatos vão se desenrolando. Em alguns momentos tenho raiva da mãe de Karl que mortalmente culpada pela situação do filho, não percebe o que acaba fazendo com a família, principalmente com o filho mais velho. Sofro e me indigno com o tratamento dado ao Noah em algumas instituições. Me irrito com o pai que se isola para ganhar dinheiro e deixa que a relação familiar afunde.
Não tendo o amor e a dedicação dos pais, vendo que todos os esforços são focados na sobrevivência de Noah, Karl envereda por caminhos de pequenos furtos, drogas e fracasso, piorando a relação dele com os pais. O livro é uma catarse, onde Karl revê seus erros e da sua forma faz seu pedido de desculpa. Um livro intenso, sobre uma síndrome que ainda hoje não se sabe a causa e nem como se cura.