domingo, 28 de fevereiro de 2010

Amor de Carnaval

- Nunca mais vou amar, nunca mais! -  é o que eu não parava de me dizer. O fim da relação com Arnaldo foi um sofrimento enorme. Passei dias trancada em casa ouvindo músicas que me deixavam cada vez mais triste, não consigo esquecer o trecho da música que mais tocava, dizia assim:

“...perdido na alucinação do amor
acreditando na ilusão
canto pra esquecer a dor da vida
sei que o destino do amor
é sempre a despedida...”

Toca a campainha e escuto a algazarra no corredor. Corro para ver o que é, antes que o velho espanhol ranzinza, chegue na porta e comece a gritar sua ladainha de palavrões bascos e criar confusão, tudo o que eu não quero neste momento da minha vida.

São elas; Charlote, Elizalinda e Salomé. Três amigas inseparáveis. Elas entram falando ao mesmo tempo, não consigo entender o que dizem e fico mais zonza do que estava. Charlote entra limpando a casa e rapidamente Poe ordem no que eu havia destruído. Elizalinda me pega pelo braço e me joga no chuveiro, um banho frio, que dói até o mais escondido pensamento dentro de minh’alma acabada.  Salomé, por sua vez, coloca um sambinha no som, serve copos de cerveja estupidamente gelada e separa a roupa e maquiagem que vamos precisar.  Já tinham tudo planejado, mas não me diziam nada.

– Calma, hoje você vai se divertir! – é tudo o que me diziam.

Refeita de dias trancada saímos e fomos rumo a Laranjeiras, o bairro que mais tem bloco de carnaval no Rio de Janeiro. Já no primeiro, mais cerveja, pula, canta  e brinca. Não lembrava mais do sofrimento passado. Arnaldo? Nem sabia mais quem era.  O Sol queimava minha pele,  o suor era intenso, mas sentia como se estivesse nascendo. Aqueles dias de tristeza em casa, não podiam mais fazer parte da minha vida, elas estavam certas disso.
Fomos de bloco em bloco, não sabia mais onde estava, encontrava amigos de muitos anos, amigos de amigos e fomos caminhando e pulando, sambando ao som das marchinhas e musicas de um carnaval, quem nem pensava em viver.
Foi num destes blocos que meus olhos cruzaram com o dele. Não sei a cor, fiquei tensa e não conseguia distinguir. Aqueles olhos me inqueriam, tentavam desvendar tudo o que passava em meu coração e minha mente. Ele queria saber quem eu era, e veio, sorrateiro conversar. As perguntas iniciais de rotina, perguntava seguidamente, nem me dava tempo de responder e muito menos de perguntar. Até que consegui, perguntei seu nome.
- Ah, olá, sou Jean-Paul e estes são meus amigos: Pena, Barbara, EduMata e Valverde.
Ficamos conversando aos poucos fomos deixando o grupo seguir caminho sozinho enquanto nós ficávamos ali, contando palavras ao outro. Era uma conversa simples, ele contava histórias, não podia acreditar que ele tivesse vivido tanta coisa divertida. Disse que é italiano, tem netos e o que mais adora é fazer amigos. Sua esposa sempre criava caso, também italiana, tem o sangue quente e morre de ciúmes. Mas ele não liga, gosta de fazer amigos e vai continuar assim. A vida, pra ele é única e não podemos deixar um dia, um minuto sequer escapar por nossas mãos com tristezas é o que ele falava. Falou isso algumas vezes, até parecia que ele sabia dos meus últimos dias.  Já tinham se passado horas, nossos amigos voltaram, queriam ir para outro bloco, aquele já estava no fim.
Nessa hora notei que havia um outro rapaz no grupo, Jean-Paul, puxou ele pelo braço e me apresentou.
-Epamineuda, este é Paul-Jean, meu filho.
Suspirei, nossos olhos se encontraram, os dele eu sei a cor, são castanhos. Pouco mais alto que eu, cabeça raspada (bem como eu gosto) e fortinho, meu coração bateu forte, abri um sorriso.
- Oi. – dois beijinhos e fomos caminhando para o outro bloco, mas agora eu seguia conversando com Paul-Jean.
E, Jean Paul, o gaiato Italiano, ia fazendo estripulias na frente do grupo, não deixando ninguém triste ao seu lado.

por Roseana Franco

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