terça-feira, 13 de janeiro de 2009

"somos morte. isto, que consideramos vida, é o sono da vida real, a morte do que verdadeiramente somos. os mortos nascem, não morrem. estão trocados, para nós, os mundos. quando julgamos que vivemos, estamos mortos; vamos viver quando estamos moribundos.
...
o próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela.

povoamos sonhos, como sombras errando através de florestas impossíveis, em que as árvores são casas, costumes, ideias, ideais e filosofias.

nunca encontrar Deus, nunca saber, sequer, se Deus existe! passar de mundo para mundo, de encarnação para encarnação, sempre na ilusão que acarinha, sempre no erro que afaga.

a verdade nunca, a paragem nunca! a união com Deus nunca! nunca inteiramente em paz, mas sempre um pouco dela, sempre o desejo dela!"


fernando pessoa em: livro do desassossego - parte 178, página 191 a 192

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